quarta-feira, 16 de dezembro de 2009







Samba, suor e humor barato

Amo meu país! Ponto! Mas, justamente por amar esta pátria, sinto-me bem à vontade para dizer que nem tudo que vem com a etiqueta "made in Brazil" me comove ou me apaixona. Sem recorrer ao lugar-comum de reclamar dos políticos, da corrupção, da violência, da falta de educação, de ética, de cidadania, do egoísmo e tantas outras mazelas humanas, ainda existem milhares de "coisinhas brasileirinhas" que não me apetecem.

O samba é uma delas. O carnaval (intrinsecamente ligado ao primeiro) também não. O frevo me enfurece de raiva. Comida mineira me irrita. Churrasco me entristece. Propaganda de cerveja me deprime. Show de mulatas para gringos me envergonha. Ruas pintadas de tinta nas vésperas de Copa do Mundo fazem com que me sinta um idiota. Canções natalinas tocadas com cavaquinho despertam meus mais cruéis e viscerais instintos.

O humor brasileiro também me irrita. E como irrita! Mas por que tanto ódio neste coração? Porque humorista brasileiro ganha dinheiro e fama das seguintes maneiras:

a) Fazendo imitações (a maioria sem a menor graça) de personalidades, como Pelé, Silvio Santos, Padre Quevedo, Lula ou personagens de novelas globais. Vide "Casseta e Planeta" e "Programa do Tom".
b) Fazendo piadinhas que remetem ao período jurássico (igualzinho aquele tiozão que você tem, que no almoço de domingo, ao ver a sobremesa, pergunta se é pavê ou pracomê...). Os expoentes deste tipo de "humor" são os programas "A Praça é Nossa" e "Zorra Total".
c) Imitando "bichinhas".
d) Fazendo humor chulo, expondo as pessoas ao escárnio público, de preferência guarnecido de uma dúzia de bundas espremidas em mini-biquinis (tipo "Pânico")

Obviamente, exietem boas exceções, como o humor inteligente do CQC (composto sobretudo por gente de teatro, com formação em humor e liderados por um dos caras mais inteligentes e capazes da TV brasileira, o Marcelo Tas). Gosto também do Bruno Mazzeo (filho do Chico Anysio) e seu engraçado "Cilada". Dos "Normais" já gostei mais, acho que a fórmula está minguando um pouco depois que virou longa-metragem. E mesmo em programas que não são propriamente de humor, como o esportivo "Cartão Verde", somos brindados com pérolas do Xico Sá e do Doutor Sócrates.

Mas existe um tabu muito difícil de ser derrubado: o brasileiro, em geral, não gosta de humor que expõe suas mazelas, suas fraquezas, suas inapetências.

Quando o humorista norte-americano Robin Willians disse, há duas semanas atrás, no programa de entrevistas do David Lettermann, que o Brasil só ganhou o direito de sediar as Olímpíadas de 2016 porque "o Rio de Janeiro levou 50 strippers e 50 gramas de cocaína" para os eleitores, foi como se o dito-cujo tivesse declarado guerra à nossa pátria.

Uma brincadeira (de mau-gosto para alguns), que expôs ao mundo uma de nossos "calcanhares de Aquiles" (drogas e turismo sexual/ prostituição) não pode ser considerada apenas uma brincadeira?

Não, ao menos para alguns ufanistas e políticos aproveitadores de plantão. Eclodiram respostas muito mais agressivas que a própria piada. "Dor de corno", respondeu o prefeito do Rio de Janeiro. ONG's e entidades de direitos humanos manifestaram seu repúdio nos jornais e na TV. Virou motivo de debate nos programas de TV, no noticiário mundo-cão e nas rodas de boteco.

Piada de Woody Allen  (que eu adoro, à propósito): "Não posso ouvir Wagner que sinto vontade de invadir a Polônia". Uma piada dura, ainda mais se levarmos em consideração que quem contou foi um judeu!

Chris Rock (um dos mais famosos humoristas norte-americanos) faz piada com a própria vida em "Everybody Hates Chris", expondo mazelas como a pobreza e a questão racial (ele é o único negro numa escola de brancos, a Corleonne).

Eu sou gordinho, já faz alguns anos. Não tenho a menor vergonha de me auto-sacanear. Aliás, sacanagem de verdade seria eu achar que minha pança é igual à barriga sarada do Beckham. O Danilo Gentili fez um comparativo muito bem sacado no seu blog:

"O brasileiro é uma gorda de 300 kilos que odeia ouvir que é gorda. Ela faz um regime pra parar de ouvir isso? Não! Regime e exercicio dá muito trabalho. É mais fácil ir no shopping, comprar roupa de gente magra, vestir e depois acomodar a bunda na cadeira do McDonalds". E completa:

"Então é inevitável que mais hora menos hora alguém da multidão grite: "Volta pro circo!" ou "Minha nossa! É tão gorda que a Endoscopia dela vai ter que ser uma produção de Steven Spielberg!". Então a gorda chora. Se revolta. Faz manha. Ameaça. Processa. Porque, embora ela tentou se vestir como uma magra, no fundo a piada a fez lembrar que ela é mais gorda que a conta bancária do Bill Gates. A auto-estima dela tem a profundidade de um pires cheio de água".

Ô gente sem noção...Rararara!


Para o inferno com sua falta de graça...




 

2 comentários:

  1. Este comentário foi removido pelo autor.

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  2. Adorei o post e concordo com seu ponto de vista. O Washington Olivetto quando questionado sobre o ocorrido com o ator Robin Willians, disse que: "não achou impactante oque o ator disse, achou que sua piadinha expõe um pouco da ignorância norte americana acerca das outras nações"...(sic)
    Sim, realmente, foi uma piadinha, mas, e daí? Não é verdade mesmo?
    Adorei o paralelo com o exemplo do Danilo Gentili.
    Bju......

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