Quem és tu, tatu?

Nunca fui pegador. Você sabe que, entre nós homens, na adolescência, na tenra idade (alguns de nós continuam nesta fase para sempre...) temos papéis mais ou menos definidos em nossa turma: o alfa da rapaziada, o topo da cadeia, o rei da floresta é o pegador.

O pegador é aquele cara que tem apenas uma função nesta verdadeira peça de teatro: pegar quantas mulheres conseguir, no menor tempo possível. E, pegador que é pegador, deve contar (de preferência em detalhes) cada encontro que teve. Assim, se você pegar uma mulher que o pegador já tenha feito vítima, pouco restará da garota que você não saiba – além de ter que conviver com a pecha de “pegador de baba”.

Eu era amigo dos pegadores (na vã esperança de sobrar um quinhão de suas migalhas para mim). Em troca desta esmola sentimental, tinha que ouvir todo tipo de comentários do tipo “se eu não pegar, outro pega”, ou “Feia??? Você já pegou pior e ainda pagou!”.

Tinha um amigo pegador que pegava geral mesmo, e tinha uma tara: mulheres vestidas de branco. Quando via uma, sempre filosofava, com a sabedoria ancestral dos maiores mestres da alcova “Olha lá, ta vendo a de calça branca? Sou louco por calça branca, fica gostosa até pendurada no varal!!!”. Ser amigo de pegador é um saco!

Ah, e também coexistiam os nerds, os certinhos, aqueles que sempre estavam prontos para merdar qualquer tipo de programa. Se marcávamos de levar algumas garotas no cinema, o nerd era aquele cara que queria ir na mostra do cinema iraniano, ver aquele filme que conta a história triste de um menino que teve as duas pernas decepados por uma mina terrestre mas ainda assim tinha o sonho de ser bailarino. Brochante!

E tinha uma terceira via, a dos engraçadinhos. Sucesso entre os amigos bêbados, era o chato que ficava fazendo troça, inventando apelido para os outros, fazendo comparações esdrúxulas (“aquele cara não parece o Biafra?”). Este ser tinha uma peculiaridade singular: era um fracasso com as mulheres!

Bem, totalmente não! As mulheres achavam ele super engraçado, um cara maneiro, o cool (sem trocadilho, ok?) da turma – mas na hora do que interessa, o engraçadinho perdia até para os nerds.

Era o melhor amigo, o confidente, o marido perfeito, o cara! Mas, como ainda éramos recém saídos das fraldas, todo mundo queria mesmo era se divertir com os errados (ou com os “cabeças”). E nessa, adivinha como ficávamos nós, os engraçadinhos?

O tempo passou, consegui casar (vale a pena ser engraçado, apesar de tudo), mas às vezes me pego fazendo as mesmas piadinhas imbecis que fazia com meus amigos adolescentes com minha esposa – ela, obviamente, não acha graça!

Mas, este bom humor me trouxe até aqui! Sem rugas, sem preocupações maiores, sem neuras e sem ter que pagar pensão para filhos e ex-esposas. Valeu a pena...Quem sabe eu não ganhe algum um dia fazendo graça?

Se não for desta vez, prometo desistir para todo e sempre...

Confesso que sinto uma pontinha de inveja daquelas pessoas que parecem ter nascido com um cabo USB ao invés de cordão umbilical, aqueles seres que, mesmo trabalhando 10, 12 horas por dia ainda encontram tempo para pescoçar no Orkut, conversar com aquele amigo distante dos EUA no MSN, falar com a namorada pelo skype, postar recados no myspace, no facebook, no twitter e no raio que o parta virtual, e ainda levar para o quarto o notebook para dar uma atualizada no blog.

Eu não consigo ser assim, por várias razões: não sou famoso, não sou artista, não escrevo lá estas coisas, não tenho saco para ficar na internet (além das horas que fico no meu modorrento trabalho...) não creio que minha vida seja tão interessante a ponto de ter seguidores (parece coisa de filme épico...), e, o principal de tudo, sou um vagabundo à moda antiga, daqueles que só entram no computador quando ele está ligado, pois tenho preguiça de ligá-lo (me desperta terríveis instintos ouvir a musiquinha de entrada do Windows...).

Mas, pensando bem, quantos boças você conhece (incluindo a mim, deste momento em diante) que têm um blog? Tem aqueles pretensamente sérios, com o interlocutor filosofando frases prontas e derramando poesia barata na tela; aqueles de pura zoeira mesmo, para fazer rir, ou se preferir chorar, tem vários bloguezinhos cut-cut...

Evidentemente, é inegável a força que os blogs têm, como ferramentas de comunicação e democratização do conteúdo disponível na net. Mas, não tenho pretensão, nem bagagem (na verdade, nem saco) para ficar discutindo teorias marxistas, cabalísticas, metafísicas nem semióticas acerca de algo que ninguém quer ler.

Este blog terá como pano de fundo (bem mais didático que “background”, não acham?) assuntos do meu interesse – afinal, de quem é esta merda? – como vegetarianismo, tosqueiras em geral, memórias cool, música, cinema e futebol.

Mas, o que tudo isso tem a ver? Nada. Assim como eu provavelmente não tenho nada a ver com nenhum de vocês que estão lendo (vai ter tempo de sobra assim lá na casa do ...). Mas é justamente desta despretensão que surgiu a ideia de ter o meu próprio blog, para escrever o que eu quiser, para quem tiver tempo, saco e coragem de ler.

Enjoy it!