segunda-feira, 21 de dezembro de 2009







10 motivos para detestar retrospectivas de final de ano

Tenho que confessar algo, no apagar das luzes de 2009: desde a mais tenra idade, nunca deixo de assistir, nos últimos dias do ano, às manjadíssimas retrospectivas. São programas com basicamente o mesmo formato, alguns mais bem produzidos, outros meio toscos, alguns deles temáticos (tipo "músicas que marcaram dois mil e sei lá quando"), mas, na essência, a mesma porcaria.

Sei que é um prazer mórbido (assim como comer aquela gororoba gordurenta que inevitavelmente vai te fazer mal...), mas, mesmo assim, ano após ano, lá estou eu sentado em frente à televisão, praguejando e vibrando com coisas que eu já vibrara ou praguejara outrora.

Para completar o rebosteio, decidi (por mais contra-senso que possa parecer), enumerar dez motivos para você não perder seu tempo com estas baboseira. Quem sabe eu não me anime e dê um pé na bunda das retrospectivas...nem que seja somente por hoje..rararara!

1) Toda retrospectiva que preste tem uma boa parte de seu tempo dedicada às homenagens póstumas (um obituário, é verdade). Repare bem e faça comigo o teste: todo ano aparece a figura de um artista que estava meio esquecido do grande público, que você nem imaginava que ainda estivesse vivo, mortinho da silva na tela (para fica mais mórbido, ainda aparece uma legenda com o ano de nascimento e ano de morte...). Sinistro!

2) As trilhas sonoras. Ah, para muitos a alma de uma retrospectiva está nas canções que acompanham cada deja-vu. O problema é a falta de criatividade de quem escolhe as músicas. Momentos alegres? Que tal "Shiny Happy People, do REM"...Roberto Carlos é onipresente nas cenas de emoção...Ação? Steve Vai, Iron Maiden...Comoção com final feliz? Coldplay, claro! Pode ouvir e me contar depois...Lembre-se que já são anos de deserviço prestado acompanhados fielmente por este quem vos escreve...

3) Sempre haverá um prédio que desabou ou explodiu, uma grande enchente, um desabamento ou tragédia natural, que fará com que o narrador mude radicalmente o tom de voz. Você vai ficando com medo, com tristeza, deprimido...

4) Então,n ão mais que de repente, uma boa notícia: alguém que escapou de ser esmagado por um piano que caiu do 15º andar porque decidiu apanhar um papel de bala que caiu no chão, o cara que ficou cercado pelas águas da enxurrada e foi salvo se agarrando ao rabo de um rato! neste momento, é inevitável uma canção para gran finales: Yanni!

5) Sempre vai faltar algo que foi relevante para você e foi impiedosamente esquecido pela produção do programa. O momento é propício para uma pergunta capiciosa: quem diabos tem o poder de decidir o que de mais importante ocorreu no ano? Para mim, certamente, não foi a ascensão do tecnobrega paraense, nem a nova sensação do Hip Hop americano.

6) Que prazer é este que temos em recordarmos das coisas ruins que aconteceram no ano. Não é justamente o espírito de renovação, de paz e reconciliação que são difundidos nesta época?

7) Algum time brasileiro ganhará 1 minuto de exposição gratuita por ter ganho o Campeonato Brasileiro. Atletas paraolímpicos só ganharão destaque se conquistarem mais de 25 medalhas de ouro cada um.

8) Retrospectiva é algo chato por natureza. E previsível. Ops, não estamos falando do especial de Natal do Roberto Carlos, não confunda!
Quer um exemplo: Tirarei o blog do ar para sempre se as retrospectivas não abordarem os seguintes assuntos: Morte do Michael Jackson, morte da Leila Lopes, chuvas em São Paulo, escolha do Rio de Janeiro como sede das Olimpíadas 2016, escândalos no governo do Distrito Federal, conquistas do César Cielo, o renascimento do Ronaldo Fenômeno...

9) Um ano tem 365 dias, em média. Cada dia tem 24 horas, o que nos leva a concluir que cada ano tem cerca de 8.760 horas. Um programa de retrospectiva “dos bons” dura cerca de 2 horas. Nem mesmo o mister M é capaz de conseguir condensar tanta coisa que acontece de interessante no mundo nestas 8.760 horas em duas horas (ah, e desconte deste tempo uns 15 minutos de comercial).

10) Aqueles assuntos que já estavam esquecidos nas reuniões de família, nas rodas de boteco e nas mesas de repartições públicas voltam totalmente repaginadas, prontas para serem difundidas, numa espécie de marketing viral ao vivo ou, se preferir um termo mais cult, num spam humano.


Vovó Mafalda? Não, Susan Boyle, que deverá figurar nas principais retrospectivas de 2009

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