terça-feira, 2 de março de 2010

Cozinha planejada, armário embutido...

Para começar, este título não é de minha autoria...é uma decupagem de uma letra de música (ótima!) do meu amigo Donato (veja nos posts mais antigos uma resenha de seus trabalhos...). A canção, uma das mais legais que ele compôs, chama-se Paralelepípedo e refere-se ao homem no seu estado "urbano de ser", cercado de fumaça, prédios, paredes e os tais artefatos do título, mas, que, por trás desta carapaça deve-se lembrar que "caminha nú, dentro de sua roupa"...

Esta frase me inspirou a escrever este pequeno e solitário lamento, sobre a inversão de valores que o ser humano tem protagonizado. Dê uma bela olhada nas ruas do seu bairro e me diga de bate-pronto: quantos sex-shops você vê? um, dois?

Agora, de volta ao exercício, quantas lojas de móveis planejados você vê? Aposto que enche uma mão, dependendo do bairro onde vive - em certos lugares de São Paulo, dá para encher as duas mãos e ainda faltarão dedos...

Mas que tipo de comparação imbecil o escriba está tentando propor? Simples, uma teoria pós-moderna, super bem sacada, inventada por mim enquanto me banhava na água quente em pleno verão: as pessoas estão se amando de menos e criando convenções sociais demais.

Antes que você queira supor que estou incentivando a poligamia, a banalização do sexo ou algo que o valha, reflita comigo: as pessoas estão valorizando muito mais um amontoados de tábuas de MDF, MDP (ou seria PQP?) do que um carinho, um aconchego, um romance...

Quem de nós não conhece ao menos um casal daqueles de propaganda de banco, de margarina, que se conhecem, namoram entre quatro e cinco anos, ficam noivos por mais dois ou três anos, e depois, quando saem as chaves do apartamento iniciam os planos do enlace matrimonial, que deve ser, no mínimo "protocolar".

O "kit matrimônio" inclui , tv de plasma, cooktop, noiva vestida de branco, igreja (mesmo que depois da cerimônia os noivos só tenham que pisar novamente por lá em alguma missa de sétimo dia), buffet para 200 pessoas, gravata do noivo cortada, sapato da noiva cheio de dinheiro, lua de mel paga em 12 parcelas, e os malditos móveis planejados e armários embutidos...Mas, sobrou espaço para o amor?

Quantos casamentos que seguiram à risca o roteiro acima não acabarm nos primeiros 2, 3 anos de convivência mútua? Sua tia fofoqueira vai te contar: "Nossa, eles tinham de tudo, apartamento de dois quartos, carro, emprego, cozinha planejada, armários embutidos...". Só se esqueceram do olho-no-olho, do friozinho na barriga, dos momentos a sós embaixo das cobertas, do piquenique no parque, daquela viagem para aquela pousadinha tão simplezinha mas tão aconchegante...

E o pior de tudo: a tal cozinha planejada (com os funestros armários embutidos) virou sinônimo de status social, com suas gavetas, balcões e apetrechos culinários de aço inox pendurados. Até aí tudo ok. Porém, fatalmente (e, infelizmente, tal sentença é regra, não exceção), quando você é convidado para um jantarzinho, logo imagina: com esta cozinha (e estes armários embutidos, evidente), vai sair um banquete a la Ferran Adriá.

Para seu desgosto, seu (sua) amigo (a) sugere, todo(a) pimpão (pimpona): "Aqui perto tem uma pizza de-li-ci-o-sa! Ou preferem comida chinesa? Rarara! Como diria meu finado sogro: "Prefiro a morte ao fedor do corte!" Rararara! 

E viva o amor! Hoje e sempre!

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