terça-feira, 2 de março de 2010







Para refletir:

"Como sei se morri e cheguei ao inferno?"
"Simples. O inferno é um lugar quente, com cheiro de banheiro de estádio, e você será recepcionado pessoalmente por Hitler vestindo sunguinha dançando Rebolation"

Vixe!!!







Você que tem o nocivo hábito de ler meu blog será brindado, a partir deste solene momento, com mais uma seção, intitulada "Tinha que ser com o Chaves", que descreverá, de maneira bem humorada, algumas experiências que ocorreram com este escrevinhador. Espero que você sinta pena de mim, e compreenda porque sou assim hoje...rarara...

Marcus Joselito x Secos & Molhados

Quem teve a oportunidade de conviver comigo na minha adolescência (meus pêsames, mãe, irmão e algumas poucas testemunhas, pois meu pai já partiu, de tanto desgosto...rarara...) sabe que fui um cara que alternava entre dois alter-egos: um deles, uma espécie de Jack Johnson da Penha (venha que sou da Penha...), vida mansa, camisa florida, sorriso aberto, salve simpatia!

Meu outro avatar era um ser soturno das trevas, que gostava de andar todo de preto, curtia Megadeth e passava Baygon no suvaco, para ser diferente dos demais imbecis da minha idade. Ambos tinham pouco em comum (exceto o fato de não pegarem mulher alguma...rarara).

Lá pelos idos de 1995 (tinha acabado de completar 18 anos, não deveria mais ser adolescente, acho...), eu tinha um passatempo predileto: passar minhas tardes junto com meu amigo Kblo na loja de discos onde ele trabalhava (André Discos, no Tatuapé), ouvindo rock'n'roll, assitindo shows de heavy metal no videocassete, falando bobagem e vagabundeando muito. Tanto que fui convidado para trabalhar por lá uns meses!!!

Para mim era a glória: eu ouvia antes de todo mundo os lançamentos, os vídeos, às vezes rolava um ingresso para um show, enfim, tudo o que um jovem boçal, vagabundo, perdedor, estapafúrdio e trolha deseja (veja que em nenhum momento mencionei as palavras proibidas: trabalho decente, estudo, namorada...).

Nestas paragens, conheci um tiozinho que devia ter por volta de seus 50 anos, uma figura que tinha um certo quê de Nei Latorraca, misturado com a leve fleuma e o blasé de um lord inglês. Sempre entrava na loja fitando as prateleiras, grunhia algo de ruim a respeito das merdas que nós ouvíamos (hoje vejo que ele não estava tão errado...), escolhia uns CD's para lá de alternativos e mandava eu passar o cartão de crédito naquelas maquininhas manuais, para marotamente ganhar uns dias a mais de folga entre uma compra e outra...

Num dia qualquer (todos os dias pareciam ser exatamente iguais ao anterior, tipo "Feitiço do Tempo"...), o dono da loja pediu que tocássemos à exaustão o novo disco dos Titãs (Domingo), para que, segundo suas próprias palavras, "aquela bosta não encalhasse toda na prateleira".

Depois de tocar ininterruptamente por três vezes o álbum inteirinho (aquele castigo foi uma forma de compensar alguns de meus mais cabeludos pecados, acredite...), eis que surge aquele velho conhecido sem trocadilhos...). Meu amigo havia me dito uma vez (ou será que estávamos bebados?) que ele era o fundador da banda Secos & Molhados (o Kiss brasileiro...ou seria o Kiss a versão americanizada do Secos & Molhados?).

Ah tá! Lembro da banda, sim. Aquela do Ney Matogrosso. Legalzinha...Mmmmmm...Tá bom, legalzinha nada, uma bosta com um bando de maricas rebolando com a cara pintada, total surreal...Falei...Ufa!

Voltando ao meu momento Joselito, fiquei observando o cliente como sempre fazia, vendo-o falar sozinho enquanto observava as prateleira de CD's de jazz e rock progressivo, para depois reclamar da música, me pedir para passar aquela bosta de cartão...aquela droga de Titãs rolando...

Mas, naquele dia, a personagem de minha história valentemente alterou o script da cena, e, dirigindo-se a mim, perguntou cordialmente:

- Tudo bem?
Não me lembro se respondi, pois, logo em seguida ele perguntou quase que imediatamente:
- Este CD que está tocando é o novo dos Titãs?
Só me lembro de ter balançado positivamente com meu cocuruto, quando ele emendou  um modesto pedido:
- Você pode colocar a faixa 1 para tocar?

Confesso que exitei um pouco ante tal pedido, por dois motivos: por que alguém de gosto tão refinado (e esquisito...) iria ter curiosidade em ouvir o novo CD do Titãs (que era de fato uma bosta...)? E o segundo (e mais relevante) motivo: era a quarta vez que eu ia ouvir aquela musiquinha chata para caraio que começava com um violãozinho modorrento e depois virava um rap-rock, uma clara (e mal feita) imitação do Red Hot Chilli Peppers...

Ouvi a música inteira novamente (ironicamente a canção se chamava "Eu não Aguento"), junto com meu novo quase-amigo, caprichando nos trejeitos (dignos de um Gary Glitter, convenhamos) e negativas - só pude deduzir que ele estava odiando aquela canção...

Quando finalmente acabou a faixa, ele pediu que eu colocasse novamente. Pensei em voar por cima do balcão e acertá-lo com um pedestal de microfone que estava por perto. Mas vi que ele estava querendo que eu colocasse novamente para esculachar a música...

E dá-lhe o violãozinho idiota...E surge a pergunta derradeira:
- Muito ruim o que fizeram com a música, não?

E eu, cheio de marra e coragem, com a intimidade que sós os bons e velhos amigos tem uns com os outros, cravei:
- Uma bosta!
Ele concordou positivamente com a cabeça, num movimento de afirmação, levantando a bola para o meu chute derradeiro:
- Principalmente este violãozinho de merda...

Neste momento, o dito-cujo saiu de perto, como seu tivesse pronunciado uma ode ao cramulhão em pleno culto matinal de domingo na igreja da Sé. Resmungou um palavrão e sentenciou ao meu ex-patrão:
- Você precisa escolher melhor os seus funcionários, Osmar!

E, contrariando o que fazia religiosamente todos os dias em que visitava a loja, desta feita saía sem levar nada, nadinha mesmo, nem uma palheta de violão...

Por que? Simplesmente porque o tal cliente era de fato João Ricardo, fundador do Secos & Molhados, renomado músico e compositor, que havia composto aquele trecho da música, que eu chamara há pouco de "violãozinho de merda", que, na verdade, era a introdução de uma das músicas mais famosas do cancioneiro popular brasileiro, "Sangue Latino".

Neste momento, compreendi o real significado da expressão "Sem noção"! Rararara...

Só faltou eu gritar: "Pegadinha do Mallandro...Rá!"
Cozinha planejada, armário embutido...

Para começar, este título não é de minha autoria...é uma decupagem de uma letra de música (ótima!) do meu amigo Donato (veja nos posts mais antigos uma resenha de seus trabalhos...). A canção, uma das mais legais que ele compôs, chama-se Paralelepípedo e refere-se ao homem no seu estado "urbano de ser", cercado de fumaça, prédios, paredes e os tais artefatos do título, mas, que, por trás desta carapaça deve-se lembrar que "caminha nú, dentro de sua roupa"...

Esta frase me inspirou a escrever este pequeno e solitário lamento, sobre a inversão de valores que o ser humano tem protagonizado. Dê uma bela olhada nas ruas do seu bairro e me diga de bate-pronto: quantos sex-shops você vê? um, dois?

Agora, de volta ao exercício, quantas lojas de móveis planejados você vê? Aposto que enche uma mão, dependendo do bairro onde vive - em certos lugares de São Paulo, dá para encher as duas mãos e ainda faltarão dedos...

Mas que tipo de comparação imbecil o escriba está tentando propor? Simples, uma teoria pós-moderna, super bem sacada, inventada por mim enquanto me banhava na água quente em pleno verão: as pessoas estão se amando de menos e criando convenções sociais demais.

Antes que você queira supor que estou incentivando a poligamia, a banalização do sexo ou algo que o valha, reflita comigo: as pessoas estão valorizando muito mais um amontoados de tábuas de MDF, MDP (ou seria PQP?) do que um carinho, um aconchego, um romance...

Quem de nós não conhece ao menos um casal daqueles de propaganda de banco, de margarina, que se conhecem, namoram entre quatro e cinco anos, ficam noivos por mais dois ou três anos, e depois, quando saem as chaves do apartamento iniciam os planos do enlace matrimonial, que deve ser, no mínimo "protocolar".

O "kit matrimônio" inclui , tv de plasma, cooktop, noiva vestida de branco, igreja (mesmo que depois da cerimônia os noivos só tenham que pisar novamente por lá em alguma missa de sétimo dia), buffet para 200 pessoas, gravata do noivo cortada, sapato da noiva cheio de dinheiro, lua de mel paga em 12 parcelas, e os malditos móveis planejados e armários embutidos...Mas, sobrou espaço para o amor?

Quantos casamentos que seguiram à risca o roteiro acima não acabarm nos primeiros 2, 3 anos de convivência mútua? Sua tia fofoqueira vai te contar: "Nossa, eles tinham de tudo, apartamento de dois quartos, carro, emprego, cozinha planejada, armários embutidos...". Só se esqueceram do olho-no-olho, do friozinho na barriga, dos momentos a sós embaixo das cobertas, do piquenique no parque, daquela viagem para aquela pousadinha tão simplezinha mas tão aconchegante...

E o pior de tudo: a tal cozinha planejada (com os funestros armários embutidos) virou sinônimo de status social, com suas gavetas, balcões e apetrechos culinários de aço inox pendurados. Até aí tudo ok. Porém, fatalmente (e, infelizmente, tal sentença é regra, não exceção), quando você é convidado para um jantarzinho, logo imagina: com esta cozinha (e estes armários embutidos, evidente), vai sair um banquete a la Ferran Adriá.

Para seu desgosto, seu (sua) amigo (a) sugere, todo(a) pimpão (pimpona): "Aqui perto tem uma pizza de-li-ci-o-sa! Ou preferem comida chinesa? Rarara! Como diria meu finado sogro: "Prefiro a morte ao fedor do corte!" Rararara! 

E viva o amor! Hoje e sempre!